sexta-feira, 13 de julho de 2007

FOMOS VISITADOS POR UMA FOTÓGRAFA - POETA
MARIA SÃO MIGUEL
galerias.escritacomluz.com/mariasaomiguel/random.php

http://particular-idades.blogspot.com/

4 comentários:

joão disse...

Descobri agora este blog.

O desafio da história da foto ainda está de pé?

João

contarelos disse...

Olá, João!

TODOS OS DESAFIOS estão à espera da vossa criatividade.
Fico à espera e à espreita.
Luísa

joão disse...

Aí vai então. à volta da foto marés e maresias.


TARDES DE ITAPOÃ


A vibração da areia debaixo do corpo nu, deitado com os braços em cruz, são passos, os teus talvez, faço força para não abrir os olhos e revelar o mistério. Se te aproximas ou afastas, meço a distância desse som sem som, das ondas que deixas na praia ao andar.

Arrasto os pés a teu lado na linha da maré, contra o mar, contra o ar quente nos cabelos. A canção do peito em forma de sal e espuma, os pombos na praia, as palmeiras bravas, o gosto animal do novo mundo. A vontade de nunca parar, as palavras são aves azuis no reflexo dos olhos, percorrem-me o corpo num abraço, estou sozinho contigo, esperam-nos noutro lado, e eu espero que esse lugar seja bem longe, para lá do equador.

À mesa sentas-te sempre onde eu te sento, estás dentro do círculo que tracei a giz para só a ti te deixar entrar. Sabes? Quero acreditar que sim. Que é para mim que o teu corpo dança e nada debaixo do Cruzeiro do Sul. Deitamo-nos tarde demais, levantamo-nos cedo demais, encurto a noite para te rever de manhã. Iluminas o meu café, o meu suco de manga, as primeiras palavras do dia.

De tarde, na cidade, finjo-me distraído. Mas logo traído quando me descobres para lá dos espelhos, ris-te. Escolhes bikinis, eu compro livros. Perdemo-nos, disfarço mal o temor de te não ver. Trago ainda sal no corpo, os óculos escuros que me ajudaste a escolher escondem a última luz do dia que guardo no olhar. Nunca temi tanto o tempo, nunca amei tanto o tempo.

No avião dormes no meu ombro. Nunca te tive tão perto, e no entanto afastamo-nos, já cruzámos o equador. A distância que nunca vou percorrer, que nunca vais percorrer. De ti conheço os cabelos que num último momento me tocaram o pescoço, nem sei se dormias, a trinta mil pés de altitude o oxigénio é rarefeito, mas nem assim me faltou o ar, respirei o lento mover do peito, à distância em que da pele se sente apenas o calor. Espelho contra espelho, sobre o atlântico. Tão curto.

Maria São Miguel disse...

Obrigada João! Agora MARÉS E MARESIAS ficou completa! Obrigada Luísa! Ando meio fora do mundo mas não te esqueci amiga. Bjinhus